baderna

anarquista

Sobre a violência e o choque

A polícia nunca é violenta, sempre é “truculenta”

A polícia nunca reprime, sempre “contém”

A polícia usando bombas e balas de borracha é “efeito moral”

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Mas quando o lado que se manifesta resolve fazer barricadas ou pichar um muro, isso é considerado vandalismo!

Que o Estado trabalha com dois pesos e duas medidas não é novidade para ninguém. Que a nossa imprensa é sensacionalista e tendenciosa também não.

O fenômeno da culpabilização da vítima é frequentemente agravado pela chamada “ditadura da urgência”. A falta de investimentos na infraestrutura do consumo coletivo leva grandes parcelas da população a viver num estado de emergência permanente, onde as emergências, a urgência, suscitam conselhos preventivos das autoridades num ritmo contínuo. E o “não-cumprimento” dos conselhos acaba colocando o peso da responsabilidade sobre as vítimas das emergências.

É como se o Estado e nossa mídia não entendessem o que é processo histórico, tratando as manifestações como se fossem episódios isolados e descolados da realidade. E aí entram todas as desculpas para pôr em descrédito o legítimo direito do povo de se manifestar. Uma das desculpas mais usada nestes tempos de luta contra o aumento da tarifa de ônibus é a de que 20, ou 40 centavos diários, não faz diferença.

Ora, a passagem não custa 20 centavos o preço real dela é 3,20 por dia! Ida e volta custam 6,40! Seis reais e quarenta centavaos apenas para se locomover de um ponto a outro da cidade e se utilizando apenas de ônibus. Estou sendo didáticx e redundante para me fazer clarx.

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O que está em jogo vai muito além disso, mas o nosso governo insiste em manter a luta alienada do motivo óbvio e real dela: exclusão social!

Às pessoas que estão chocadas pelas manifestações terem tomado um rumo violento, pensem em como se chamar a atenção popular nestes tempos de pseudo liberdade, onde você pode se manifestar apenas dentro dos limites pré estipulados. Seguido pela polícia a menos de 20 metros com pessoas ‘gentilmente’ fardadas e portando armas químicas, aos lados e à sua frente. Tudo isso para garantir o seu legítimo direito de se manifestar dentro das regras e no ritmo certo.

Aliás, eu disse “violento” ali em cima!? Vamos pensar sobre o que é violência. Escrever em uma parede é violência? Fazer barricadas para garantir o seu direito à voz é violência? Lembro-me de Brecht nessas horas e fico pensando, que tempos são esses onde uma parede vale mais do que uma perna sangrando por uma bala de borracha? Onde colocar fogo em sacos de lixo é mais grave do que uma bomba covardemente atirada na cabeça de uma pessoa? E por falar em bombas, nenhuma mídia noticiou, por exemplo, que a nossa polícia “tão bem treinada e com expertise” atirou bombas de gás lacrimogêneo dentro do shopping Pátio Paulista. Mas está tudo bem, afinal “a polícia sempre apura. Toda a ação da polícia é filmada.” (Geraldo Alckmin – IG Notícias). O que nunca é apurado é a ação do povo, basta ser suspeitx pra ser culpadx por algo.

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Quando vamos acordar? Os movimentos sociais são criminalizados sempre pelo Estado e xs manifestantes são tratadxs como “crianças birrentas” dentro de uma educação behaviorista, na lógica unilateral e estúpida do “mal” comportamento x punição. Jogar o povo contra o povo dá menos trabalho do que enxergar a real problemática e reconhecê-la. Assim o governo nem precisa sujar as mãos e sai como o “adulto” consciente e responsável! E o precáriado é colocado no seu lugar de sem cultura, histérico e violento.

“Era muito pouco o que eu podia.

Mas os governantes

Se sentiam, sem mim, mais seguros”

Bertold Brecht

 

fotos: Pedro Chavedar (comunicamos que o autor da foto não possui nenhum vínculo com esse blog)

Oi, baderneirxs!

Primeiro, vamos à uma breve explicação. Você sabe de onde vem o termo BADERNA?

Marietta Baderna

Marietta Baderna

O termo baderna como sinônimo de bagunça surgiu do sobrenome de uma moça italiana. Mais precisamente de Marietta Baderna, nascida em Piacenza, em 1828, filha do médico e músico Antônio Baderna. Conforme o professor Ari Riboldi, especialista em termos e expressões da língua portuguesa, Marietta, ainda adolescente, tornou-se famosa bailarina, com muito sucesso na Itália e países europeus vizinhos, como a Inglaterra. Nesse período, a Itália passou por conflitos internos e ficou dividida, com parte de seu território sob dominação da Áustria. Graças ao sucesso de sua arte, a bailarina teria contribuído com recursos para a causa da unificação de seu país.

Para escapar da perseguição política, em 1849, Marietta e seu pai refugiaram-se no Brasil, fixando residência no Rio de Janeiro, lugar ideal para a família Baderna prosperar. O Brasil vivia o regime imperial. “A bailarina começou a apresentar-se no Teatro Imperial e logo conquistou uma legião de fanáticos fãs, especialmente entre o público mais jovem”, conta Riboldi. Talentosa, de espírito rebelde e contestador, a artista ganhou muitos admiradores.

Logo, porém, começou a sofrer a perseguição dos conservadores e moralistas. Para eles, a bailarina italiana representava um perigo ao futuro das novas gerações, um mau exemplo. “Ela vivia com um artista sem estar formalmente casada. Além disso, incorporara em seu repertório clássico músicas e coreografias de origem popular brasileira e africana”, explica. Começou a ser rejeitada pelos empresários e suas apresentações ficavam reduzidas em tempo e em segundo plano. Os seus fãs, já conhecidos como baderneiros, protestavam batendo os pés no chão e intrrompendo os espetáculos. Ao término das apresentações, saíam pelas ruas da cidade batendo os pés e gritando o nome da artista.

Prevaleceu a vontade dos conservadores e os bons costumes foram salvaguardados. Marginalizada e para muitos tida como prostituta, não coube a Marietta Baderna outro destino: com o pai voltou para a Itália e sua carreira entrou em decadência.

Assim, o sobrenome Baderna, deu origem ao termo que indica, de acordo com o dicionário, “confusão, desordem, ausência de regras”.

Então somos todxs baderneirxs!

Com esse blog, propomos um espaço autônomo de discussão sobre temas relevantes para a sociedade. Somos apartidárixs e sem rabo preso com nenhum movimento. Acreditamos na informação livre e na mídia independente. Acreditamos que sem luta não há mudanças. Acreditamos na anarquia como estilo de vida. Vem lutar com a gente!

Para sugestões, perguntas, iniciar uma conversa e/ou afins, escreva para baderna@riseup.net